domingo, 27 de março de 2011

Ironman Brasil: Semana 12 - Ciclistas de Alma


Há muito tempo, quando ainda pegava onda, existiam os surfistas de campeonato e os "soul surfers". De um lado, surfistas competitivos, que mediam suas performances pelos litros de água jogados em cada manobra, pelo força de batidas, pelos "quase atropelamentos" de outros surfistas perdidos no meio da arrebentação. Do outro lado, seres tidos como mais evoluídos, em sintonia com o mar, que seguiam com harmonia a linha da onda, sem mudanças bruscas de direção. Nunca participei de nenhum campeonato, mas me agradava a ideia de ser "radical", mesmo que não o fosse.

E não é que essas ideias anacrônicas ainda existem. Necessidade besta das pessoas têm que querer desqualificar outras por algum comportamento peculiar. Necessidade besta de querer julgar o comportamento dos outros, tendo por base a própria experiência. Cada um na sua, pô!

Domingo passado participei de um desafio de ciclismo. Um AUDAX. É um tipo de evento não competitivo com origem na França, organizado por um grupo dissidente do Tour de France, que queria apenas curtir um passeio, tendo como único objetivo, completar grandes distâncias dentro de um determinado tempo limite.

Este evento que participei, era um Audax 300 (300km). Somente pessoas que já tinham completado algum evento prévio de 200 km (brevetados) podem participar. Não sou brevetado. Acontece que neste mesmo evento, havia um desafio de 150 km que encaixava direitinho na minha planilha de treino pro iron. Um treino de luxo.

Ok. Achei meio estranho o fato das orientações para a "prova" ter frases como: "é obrigatório parar nos postos de controle para carimbar o passaporte"(pô, vou quebrar meu treino pra carimbar um papelzinho?), "no km X do percurso, existe um posto onde se pode fazer uma boa refeição"(como assim ?????????).

Decididamente, eu sou um cara competitivo, o que não me torna menor ou maior que nenhum outro "atleta de alma" de nenhum esporte.



Fomos (eu, Marquinhos e Flávio) para Boituva. Trecho de uns 78 km pelo acostamento da rod. Castello Branco, sentido interior. Nós, com bikes espaciais. Eu com meia de compressão. Os outros cento e tantos ciclistas olhando meio incrédulos. Gente com todos os tipos de bike, com todos os tipos físicos. Meio estranho.



Largada dada. Com menos de 1 km, garrafinha de água do Marquinhos vai ao chão algumas vezes. Depois, com menos de 25 km rodados, dois pneus furados do Flávio, o campeão de pneus furados dos nossos treinos, disparado.



Mesmo sem nenhum caráter competitivo do evento (vai dizer isso pra um triatleta), éramos os últimos do pelotão.

E lá fomos nós. Velocidade de cruzeiro, vento de cauda. Pedal fácil. Fomos alcançando os grupos de ciclistas e deixando todos pra trás. Tivemos companhia de um grupo que se animou e ficou junto boa parte da primeira metade do evento, até serem despachados (com o Flávio junto) em uma longa subida (aêêêê Romeiros....).

No PC1, éramos motivos de observações maldosas dos "ciclistas de alma": "Olha os triatletas aí. Vão chorar com o vento na volta".

Vimos pouca gente saindo pro retorno, apesar de mais de 20 minutos perdidos com os percalços da primeira metade.

Realmente o vento da volta estava castigando, mas sem choradeira. Clip, posição aero e força. Fomos alcançando os ciclistas que estavam à nossa frente, inclusive um pelotão da cidade, todo organizadinho, com esquema de vácuo. Depois deste, mais ninguém à nossa frente.

Percorremos quase 157 km e chegamos à cidade em 3º e 4º, Marquinhos e eu, respectivamente. Bike no carro, tênis no pé...e pra espanto de quem estava lá e dos outros que iam chegando, saímos pra correr 6 km.

Foi um belo treino mesmo. Sinto que já garanti os 180 km de pedal do iron.

Esta semana de treino foi com volume pouco menor, mas com mais intensidade. 

A segunda começou mal, com água da piscina a 35ºC. Impossível nadar assim. Treino perdido.

Terça de TT com o Marquinho. O moleque me quebrou, mas no geral foi razoável. 30 km em 50'.

Quarta com natação (água normal novamente) e tiro de 6km de corrida. Terminei EXAUSTO com 25'. Esse lance de tempo é MUITO relativo. Pra alguns, esse tempo não é NADA demais. Pra outros é inatingível. Como disse no começo, cada um na sua! Pra mim foi FORTE e me deixou cansado pro treino na quinta. Cumpri tabela, mas não tive força pra ir pro Pilates.

Sexta com natação e só....mas com 20 tiros de 100m.

Sábado de cruzado em ritmo iron, devagar e sempre. Segundo o Marcos...a gente começa DEVAGAR e SEMPRE acelera...hahahahaha. Foi mesmo assim, mas sem quebradeira no final.

Domingo de longo de corrida, 26 km.

Estamos entrando no "point of no return". Aquele que a única coisa que resta pro piloto é levantar voo. Não dá mais tempo de parar o avião antes do fim da pista.

Treinamos juntos, em grupo, todos praticamente com a mesma planilha. Apesar disso, cada um tem que saber o seu potencial, suas limitações. Em geral, treinamentos de longa distância permite ao atleta se conhecer melhor. Quem tem juízo, ouve os sinais que o corpo SEMPRE dá.

Agora é a hora de se colocar metas de desempenho. Como vou fazer minha natação? Como vai ser meu ciclismo. Qual a velocidade média que vou buscar pra sair correndo bem? Qual meu pace de corrida?

Tudo isso é treinável. A prova é aplicação do treinamento.

Tá na hora de dar um reset no corpo e na mente. Botar na cabeça que o treino do meio iron é passado. Já estou com isso na cabeça para os treinos longos que virão, mas sempre lembrando o mestre Castilho: Sem respeito EXAGERADO. Bota a meta e vai atrás dela! Treinar com tempos próximos (de preferência pouco mais forte) do ritmo pretendido. Não adianta treinar os 180 km de bike em 8 horas se o pretendido são 6. O inverso também vale. De NADA adianta pedalar como um condenado nos treinos e não poder aplicar no dia...ou pior, não ter condições de correr uma maratona depois. 

O corpo não tem GPS, mas tem um relógio perfeito que sabe exatamente correlacionar tempo e intensidade da atividade física. Todas nossas reações metabólicas durante o exercício são baseadas nessa equação. Se fizermos o longão de bike ou corrida muito rápidos (muito abaixo do pretendido), como o corpo vai entender que ao passar aquele tempo que "ele estava acostumado" a treinar, ainda não é o fim do treino ou prova? 

Muito cuidado com a nossa "máquina" galera e boa reta final de treinos.

Abril vai ser PESADO.

Log da Semana:  300 km em cerca de 14 horas de treinos, mais 1 hora de Pilates e 1 hora de massagem.

Faltam 62 dias!



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