sábado, 9 de outubro de 2010

Companheira de Jornada


O assunto não é muito original. É até recorrente.

Ouvi durante a semana que passou uma frase de uma pessoa que nem faz parte do "núcleo atlético" da minha vida (parece novela): "Comece a correr e nunca mais deixe de sentir dor".

A dor. 

Velha conhecida de TODOS: atletas profissionais, atletas amadores como a grande maioria, atletas  de finais de semana, sedentários...

Certamente existe uma certa dose de prazer na dor e nem estou me referindo à assuntos impróprios para menores de 18 anos.

Quem não se sente vivo ao se terminar um treino que exige muito do corpo, como por exemplo, pedalar em Romeiros? Daqueles que deitamos e sentimos cada músculo contraído pelo esforço. 

Ou então, durante uma sessão de massagem, shiatsu.

Nem sempre a dor é ruim.

Meu irmão "australiano" se auto proclamou diretor do "documentário" sobre meu ironman. Entre idas e vindas na ponte aérea Austrália/ Indonésia, já trabalhou como fotografo de surf e atualmente faz um curso de edição de imagem (vídeo). Ele me pediu pra que eu fizesse um diário, não só por escrito como este blog, mas também por vídeo, para inserir no making of de um ironman. Deu instruções: você registre tudo - momentos bons, de alegria ao se completar provas, momentos duros pela dificuldade dos treinos, frustrações, etc.

Eis aqui um momento difícil: a dor que é ruim.

Posso fazer uma lista enorme do que dói: fasciíte plantar (herança da maratona de SP), meu dedão do pé direito, as canelas por sobrecarga da gordura subcutânea junto às tíbias, meus joelhos que na verdade são meus "tendões de Aquiles", minhas costas, meu ombro direito.

"Pô, mas você é médico"

É, sou...e daí?

Isso não quer dizer que tenho que ser o MEU próprio médico.

Coisas que aprendemos com o tempo: a gente não pode querer segurar o mundo nas costas. 

Alguns exemplos.

Vivia fazendo ultrassonografias de rotina na Vivi. Um dia, um chefe de quem eu gosto muito (não trabalho mais com ele) me disse: "Daniel, nunca misture as coisas. Um dia você pode ter uma surpresa ruim, ou negligenciar algo importante". Detalhe, ele diagnosticou um câncer na própria esposa.

Outra foi ainda mais cruel. A Júlia, antes de fazer 1 ano começou a ter  manchas avermelhadas pelo corpo. Nunca dei bola, até que, por insistência da Vivi, resolvemos ligar pro pediatra. Fomos até onde ele estava. Ela foi examinada. Com muita preocupação, ele disse que teria que pedir alguns exames e ela iria ser picada. Tudo bem. De repente, a cabeça de médico começou a pensar: febre recorrente, semana sim/ semana não com alguma virose, manchas na pele. PORRA, o cara tá pensando em leucemia!!!!!!!!!!!!

Fomos pra casa e por telefone ele passaria o resultado.

Até a merda do coagulograma ficar pronto, sofri como um FILHO DA PUTA, chorei trancado no banheiro tomando banho. Isso tudo, sem poder deixar transparecer pra Vivi. 

Não era!

Por isso não sou médico 24 horas por dia. Sou gente. Sinto dor e muitas vezes não posso resolver tudo. Muitas vezes não sei todas as respostas.

O treino longo de corrida desta semana foi sofrido. Muita dor. Muita frustração. Muita dúvida se realmente vale à pena e até onde se submeter a isso pode me levar.

Sempre digo, envelhecer é se acostumar com as dores que vamos ganhando. 

É inevitável e, desde que não seja incapacitante, como não são, não vou ficar ligando pra nenhum amigo meu pra me queixar de dores depois dos treinos.....teria que fazer isso todos os dias.


Nada como um dia após o outro.


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